segunda-feira, 29 de outubro de 2007

MEMÓRIAS 1 - A Origem…

Afinal, de onde é que me surgiu este sportinguismo todo? Será que não vinha já no código genético? Há verdadeiramente uma escolha racional? Tentar perceber e recordar o porquê de ser um sportinguista tão ferrenho afigurava-se-me difícil, para não dizer impossível de explicar... Claro que a razão é múltipla, mas teve que principiar nalgum momento, ou ocasião…Qual é, então, a minha primeira memória significativa do Sporting?
Pois bem, ao contrário do que possa parecer, não foi assim tão complicado… É certo que a circunstancia da minha família paterna ser, toda ela sem excepção, sportinguista, num facto que constitui para mim um proeminente orgulho, deverá ter constituido um grande peso sub-consciente na decisão.
Mas o momento da decisão, permanece, felizmente na minha memória. Acho que não é surpreendente, pois já António Damásio, grande neurocirurgião e cientista luso radicado nos E.U.A., defende na sua obra “O erro de Descastes” que a memória está associada indelevelmente à emoção…
De todas as emoções “leoninas” esta é seguramente a mais antiga relacionada com o Sporting. Esta é a “tal” da DECISÃO! Tinha cerca de 6 anos e fui “dar” comigo dentro de um pavilhão gimnodesportivo para assistir a um jogo em que de um lado estavam sete atletas equipados com aquelas camisolas, de leão rompante ao peito e listadas horizontalmente de verde e branco…! Do outro, estavam outros sete gajos quaisquer…
Pouco antes já o meu tio Zé me prometera que haveria de me levar a ver o Sporting: “O melhor clube do mundo!” Afirmava ele. Sim, já ouvira falar do Sporting, familiares a discutir, com maior ou menor ênfase sobre futebol, mas eu não dava realmente qualquer importância. As minhas ocupações até aí passavam mais pelas correrias e outras “brincadeiras”…à Carlos Lopes!
Mas retomando a estória, lembro-me de se ter apoderado de mim, sem razão aparente, um desejo desmedido de alcançar aquele pavilhão que já se avistava por entre os edifícios, enorme lá ao longe, onde, dizia o meu tio, “eu ia finalmente ver jogar os Leões!”. O alvoroço surdo que rugia do pavilhão e saía a aproximar-se, parecia confirmar a presença daqueles nobres felinos… A agitação, os comentários excitados e os passos acelerados que me cercavam, todos com o mesmo “fito” e no mesmo sentido... Recordo-me que não era só a curiosidade de partilhar um acontecimento diferente, foi pelo contrário um daqueles sentimentos premonitórios que por vezes nos assalta inexplicavelmente e se precipita na sensação de que algo vai mudar para sempre a partir daquela experiência…
A verdade é que foi tudo transcendental. Desde o ambiente, magnifico, as cantorias, os protestos, o colorido esmeralda, o entusiasmo…, foi isso: o entusiasmo em vários tons de verde daquela malta toda que me fascinou! Não sei, se assisti mais ao desafio que decorria dentro do ginásio se da diversão que me fascinava vindo da bancada. Lembro-me de ter chegado já com o jogo prestes a iniciar e o anfiteatro repleto… agora também do barulho ensurdecedor que se fazia ouvir! O meu tio não conseguiu dois lugares sentados seguidos e assim fiquei umas filas mais à frente, mesmo perto do início da escadaria que subíramos à entrada. Antes de se afastar para se sentar mais atrás, ainda me perguntou, à pressa: “Sabes quais é que são os do Sporting?”. O tom da voz e a expressão do rosto revelava uma preocupação típica de alguém que se tinha esquecido de comprovar uma informação indispensável…“Claro!”, respondi um pouco incrédulo com a pergunta. A minha intuição indicava-me a certeza que só apontava para aqueles das camisolas verde e brancas, aquelas é que são bonitas, pensava. “São os das riscas!”, gritei-lhe para que me pudesse ouvir sobre o ruído de fundo. Sorriu-me afirmativamente e afastou-se por entre a multidão. Volta e meia voltava-me para trás a atestar se ainda estava sentado no mesmo lugar…Estava, e com a atenção fixa nas andanças do jogo. Passado aqueles momentos de insegurança e depois da simpatia do senhor do lado que me sossegou: “He pá! Fica descansado que estás entre leões, que é tudo malta porreira!”, já só olhava para trás para me certificar do “tal” entusiasmo a cada golo dos verde e brancos e após o intervalo já gritava pelo Sporting, em uníssono com a multidão, incentivado pelo meu Tio que, entretanto, se sentara o meu lado.
Escusado é dizer que quando o jogo terminou, e depois de ter assistido à primeira das vitórias dos Leões, - e logo ao vivo - o Sporting tinha ganho, para sempre, muito mais que um simples jogo, tinha ganho o maior adepto de Castelo Branco e arredores, jurei! Mais um entre aquelas centenas de fervorosos Leões à solta, agora a caminho de casa e com a noite a envolver a cidade…! A magia, a alegria, as conversas e uma espécie de ambiente solidário e fraterno que se sentia no ar… Esta era a minha “tribo”!
Foi assim, que num jogo de andebol, decidi que queria definitivamente entrar nesta grande família leonina. Anos mais tarde, fins da década de 80, já adolescente, eram os pontapés na bola que me entusiasmavam, mas isso não me impediu de pagar um bilhete, "comprado" com o sacrifício dumas imperiais e idas à discoteca, e assistir a mais uma conquista, naquele mesmo pavilhão na final da Taça de Andebol contra o… Futebol Clube “Os Belenenses”!
Concluindo, não posso deixar de referir que é com exemplos destes que se pode observar a importância primordial que o ecletismo tem num clube como o nosso Sporting. É por isto, para além de muitas outras razões válidas, que eu o defenderei sempre.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Capicua101,

Não posso deixar de o cumprimentar por este arrepiante post que destila sportinguismo por tudo quanto é linha.

Esta é, de facto, quanto a mim, a verdadeira essência do que é ser do Sporting... ser capaz, num momento menos bom que a nossa equipa atravessa, de ir ao fundo do baú redescobrir as origens e o imenso orgulho que é pertencer a esta família!

Parabéns! No mínimo, inspirador!

Saudações leoninas

PS: a propósito do tal momento menos bom, respondi-lhe no http://centuria-leonina.blogspot.com/

Virgílio disse...

Caro Visconde de Alvalade:

Antes de mais agradeço o lisonjeio.

O Objectivo é mesmo esse, recordar bons tempos, nas alturas em que as coisas correm menos bem. Como afirmei no meu primeiro post: "…Também por isso, o meu destino confunde-se com o destino do Sporting, até porque quando vence transforma os meus momentos seguintes na mais pura alegria e, quando não o faz, deixa-me nostálgico das muitas horas felizes anteriormente vividas, mas também esperançoso nos tempos de vitória que inevitavelmente irão surgir!...”
No fundo, sou um optimista incorrigível! As vitórias seguintes estão para chegar…Deus queira que já amanhã em Fátima!

SL!

verdao(sl) disse...

Caro Capicua101,

Excelente post, pleno de fervor leonino.

"Deus queira que já amanhã em Fátima!" - Deus quis!

Saudações Leoninas